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Vida é este inferno de guerra que se perde todo santo dia

Vida é este inferno de guerra que se perde todo santo dia

Leia abaixo três poemas de "Vida é este inferno de guerra que se perde todo santo dia", de José Ronaldo Siqueira:

 

Exercício de memorização


A memória usa sapatos pesados
O barulho que fazem
Não podem ser olvidados
Incomodam
Tanto quanto a criança
Que anda de skate
No apartamento de cima
Não nos dá sossego
Essa mulher possessiva
Que nos comanda a mente
E não nos deixa esquecer
E, se, por descuido
Pensamos que não lembramos mais
Ela usa dos saltos pesados
De chumbo-reminiscência
E nos calca
Um calcanhar-lembrete:
Estou aqui, recorda-te!
Estou aqui, sempre!
A memória tem este capricho:
De não deixar nada passar
Daquilo que quer se esquecer
Da gente.
E machuca.

 

***

 

Antes do ato


Um canto de liberdade
Voa sozinho
Deixa a cidade
Abre as asas
Para se aquecer ao sol
Seguindo em frente
Leve e solto
Pia no pé de goiabeira
Caga na cabeça dos incautos.
Esse canto de liberdade
Troca os conectivos
Não se limita ao léxico
Nem se preocupa com o nexo
Fez paródia do hino nacional À la geração radical
E se sente completo, feliz
Ao ouvir outras notas
De outros cantos de liberdade
Que o acompanham em revoada.
Um canto de liberdade
Eu me lembro bem
Não era algo raro de se ouvir
Não mesmo
Isso era no longínquo tempo
Em que ainda se podia escutá-los
Antes
Quando ainda não haviam
Aprisionado
Todos os poetas
Que os ensinavam a voar.

 

***

 

Os cactos também se abraçam


Línguo a presalização da fera
Empedregulho o lacrimar do tempo:
A ansiolitização das esquinavidas
Os premeditos do desejosamente
O aparenticídio dos seres-pessoinhas
O enluvamento do luto-líquido
O arf-arfar no onomatópico do leito-leitoso
Inimprecisar o lapsamente do almar
As harpias só andam, agora, de Uber
Elas já não sabem mais
(Ou não querem)
Conjugar a terceira pessoa do plural
Do verbo
Coração.

  • Sobre o autor:

    José Ronaldo Siqueira é carioca, formado em Direito e em Letras, com especialização em Literatura Brasileira. São seus os livros: O prisioneiro (contos), Cakibooks/2012; Historinha é o escambau! (microcontos), Celacanto/2016; Manual não injuntivo de como criar um monstro (novela), Patuá/2018, obra agraciada com o 3º lugar no Prêmio Biblioteca Nacional/2019; Atlas anatômico para almas puídas (contos), Patuá/2021.

  • Informações do produto:

    Capa comum: 96 páginas

    Formato 14x21

    Editora Libertinagem 1ª edição

    São Paulo, 2022

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