Verde-hortelã, de Ingrid Manente
Leia abaixo três poemas de Verde-hortelã, de Ingrid Manente:
Para todos os homens que se apaixonaram por mim
Eu sou fogo no peito.
Te disse da primeira vez.
Não sei ser pouca chama,
Sou muito.
Sou inteira.
Te pedi para não se assustar,
E você quis entrar.
No meu quarto,
Na minha cama
No meu âmago.
Mas se assustou.
Saiu de fininho,
Assoviou
Para todos os homens que se apaixonaram por mim,
Eu peço perdão por ser demais.
Não ser pouca,
Rasteira.
Líquida, como dizem.
Não falam em amores líquidos?
O meu não é, bem.
Peço perdão por ser fogo no peito,
Incêndio no matagal.
Para todos os homens que ainda vão se apaixonar por mim:
Peço, não se assustem.
***
Fluoxetina
eu tenho tanto medo de ficar louca
me agarro à sanidade como alguém
se agarra num galho quando está à beira do abismo
eu sei bem o que existe lá embaixo
e é irreal
dá medo
sabe o que é ver pessoas andando
em sua direção e elas não existem?
não no palpável
sabe o que é sentir seu corpo todo formigando?
sabe o que é sentir a morte à sua espreita?
aquele suspiro gélido em sua face
aquelas mãos magras e geladas agarrando seu corpo?
foi um som.
lembro bem de pegar no sono
com uma voz feminina cantando
essa melodia me fez acordar no dia seguinte
com meus pulmões ainda se enchendo de ar
e meu coração ainda batendo.
ainda bate.
eu tenho medo da insanidade
do quarto branco trancado
de estar sozinha.
de ser só
de estar em minha própria companhia
pela eternidade.
eu me agarro à sanidade
por medo.
medo de gritar e não ser ouvida
***
sobre você
eu não gosto que me toquem
mas deixei você me tocar
eu não gosto que me toquem
mas deixei você me tocar
eu não gosto que me toquem
mas deixei você me tocar
mil vezes na minha cabeça, tilintando
martelo esse pensamento mil vezes ao dia, a mil km/h
não deixei você me tocar
quando alguém toca por desejo sexual
deixei me tocar até desnudar minha alma
até desnudar minha carne
até meus ossos ficarem expostos
e refletirem os meus sentimentos
os sentimentos que escondo dentro de um buraco e carrego comigo para onde vou
eu não gosto que me toquem
mas deixei você me tocar
você
quantas vezes tocaram a minha pele e eu fugi como um animal ferido
quantas vezes tocaram o meu cabelo e eu desviei
você não
você me toca e não queima
você me toca e eu não fujo
você me toca e eu não desvio
você me toca e me desnuda
todas as vezes
eu não gosto que me toquem
mas deixei você me tocar
lá na alma.
Sobre a autora:
Ingrid é paulista do interior, tem 29 anos, trabalha como designer, mas é cientista social por formação, tem um pézinho no audiovisual (estudou cinema por um tempo e pretende voltar o quanto antes), e é escritora, fotógrafa e artista visual por vocação. Pela vontade de ser e estar com o corpo no mundo através da arte e da escrita. Esse livro é um pouquinho do que ela escreveu nos últimos anos, os poemas foram escolhidos cuidadosamente para caberem em quem ela é e como sente hoje. Muitos poemas são sobre alguns traumas de infância, sobre coisas vividas há muito tempo, mas outros são sobre sentimentos comuns na vida de uma mulher adulta e já formada: relações, amor, trabalho, reflexões pessoais.
Informações do produto:
Capa comum: 88 páginas
Formato 14x21cm
Editora Libertinagem: 1ª edição
São Paulo: Julho/Agosto de 2024
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