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Sussurros de uma perda e outras histórias, de Cássio Farias

Sussurros de uma perda e outras histórias, de Cássio Farias

Leia abaixo um trecho inicial de Sussurros de uma perda e outras histórias, de Cássio Farias:

 

A sala
Meus olhos estão cheios de lágrimas; não consigo enxergar. Sinto como se só pudesse observar a mim mesmo fora do corpo, uma sensação estranha, como um sonho acordado. Na sala onde estou, vejo outras pessoas: angustiadas, ansiosas, com raiva, lamuriosas e em negação. É uma sala branca, com luzes intensas e cadeiras enfileiradas lado a lado. O silêncio paira entre todos, não apenas pela ordem escrita em uma placa à
frente, mas porque cada um está voltado para si, imerso em suas próprias dores, no luto e em prisões emocionais sobre si mesmos, sobre o que perderam e deixaram para trás.
Percebo que já se passaram horas, e continuo sentado. Em minha mão, seguro um documento que me custa ler. Olho para as pessoas e noto que elas passam por picos de emoções, verbalizadas em breves encontros com outros, sejam familiares ou membros da equipe que vêm conversar. Uma família ali perdeu um avô e um pai devido a um problema cardíaco. “Faleceu tão de repente”, diz uma moça, aos prantos.
Confesso que não me lembro do meu pai; ele me abandonou quando eu era muito pequeno, e minha mãe fez de tudo para nos criar da melhor maneira, à sua maneira. A única sensação que me vem à mente é a de perdê-la, e me pergunto se meu filho também já imaginou a possibilidade de ficar sem pai. Ele já é um homem responsável, trabalhador, pai de família, e acredito que a sensação de perder um filho seja algo que ele já tenha considerado. Nunca parei para imaginar sua morte, mas o
medo e a sensação de impotência, misturados a uma dor quase metafísica, precedem qualquer chance de conceber a sua ausência.
Meu filho é um jovem, para mim, pois tenho quase cinquenta anos. Eu o tive aos vinte e quatro, e hoje ele está na idade que eu tinha quando me tornei pai pela primeira e única vez. Lembro-me de quando descobri que seria seu pai; sua mãe veio até mim, chorosa e receosa, carregando todas as inquietações de alguém que, ao terminar a faculdade, acaba de receber a notícia de que será mãe. Ela se perguntava como conseguiríamos cuidar de alguém tão dependente, tão pequeno e que precisaria de tanta
proteção contra o mundo. Eu a abracei, compartilhando do mesmo medo que ela sentia, e tentei não transparecer essa angústia, essa sensação de responsabilidade que pesava sobre nós, sobre mim.

Quarenta semanas se passaram, e você nasceu. Mais uma vez, fui arrebatado por emoções e sensações ainda desconhecidas para mim: uma mistura de alegria, choro, medo, ânimo e ansiedade. No entanto, o peso da responsabilidade ainda recai sobre nós.
Tentamos nos preparar durante essas quarenta semanas em que você se preparava para nos trazer felicidade com sua presença em nossas vidas. Não que você já não fizesse parte de nós; pelo contrário. Depois que descobrimos sobre você, alinhamos nossas vidas à sua, buscando sempre mantê-lo próximo e protegido, fazendo de tudo para que sua vida aqui na Terra fosse a mais tranquila possível, com todo o nosso apoio e nossa
forma de ajudá-lo a encarar o mundo. Não tive apoio do meu pai e desejava que você o tivesse, que se sentisse protegido por mim. Mesmo tentando ser tão presente, sei que tive minhas falhas, e peço perdão, filho. Eu também estava vivendo pela primeira vez: você, sendo meu filho pela primeira vez; vivendo a primeira vez; eu vivendo e sendo pai pela primeira e única vez.
Sua mãe me dizia que você seria a melhor coisa que existiria em nossas vidas, e disso nunca pude duvidar. E você se desenvolveu tão bem. Lembro que, no primeiro ano da sua vida, nossa preocupação era com a sua sobrevivência. Líamos coisas demais sobre tudo na infância; sua mãe tinha essa preocupação, e eu tentava sempre acalmá-la, dizendo que você estava bem e que estávamos fazendo o melhor. Mesmo que financeiramente nada estivesse indo bem, sempre tentamos dar o melhor de nossas vidas a você, para que pudesse ter conforto e passar pelo mundo de uma maneira tranquila.

  • Informações do produto:

    Capa comum: 120 páginas

    Editora Libertinagem: 1ª edição

    São Paulo: fevereiro de 2025

    Formato 14x21cm

     

  • Sobre o autor:

    Cassio Farias é graduado em Pedagogia, mestre em Educação e atua como pedagogo e professor. Natural de Paranaguá-PR, atualmente reside em Pontal do Paraná-PR. Apaixonado por literatura desde cedo, encontrou na escrita uma forma de dar vida às histórias que há muito habitam sua imaginação. Sussurros de uma perda e outras histórias marca sua estreia como escritor, concretizando um desejo antigo. Ele se dedica a criar narrativas que tocam o coração e estimulam a reflexão. Fascinado pelas nuances das personagens e pelas tramas que exploram a essência humana, busca oferecer ao leitor uma experiência imersiva e emocional.
    Em suas histórias, temas como luto, memórias, relações familiares e dilemas psicológicos ganham vida de forma sensível e profunda. Mais do que apenas contar histórias, Cassio escreve com o propósito de criar conexões. Seu maior objetivo é simples e sincero: que suas palavras sejam lidas, apreciadas e que ressoem no coração de quem as encontrar.

  • IMPORTANTE:

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    Os produtos adquiridos em pré-venda funcionam como um tipo de encomenda dos nossos livros. Você compra enquanto eles ainda estão em processo de edição. A pré-venda dura três semanas e, após este período, há ainda etapas de finalização na Libertinagem antes de ir para a impressão. A gráfica responsável, por sua vez, se reserva o direito de usar um prazo de duas semanas para entregar os exemplares à Editora. Em geral, é bom contar com um prazo médio de até seis semanas para que enviemos o seu livro. Uma vez que os exemplares estiverem na Editora, os envios serão feitos imediatamente.

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