Sapatões ansiosas pensam demais, de Carolina Jordão

Leia abaixo três poemas de "Sapatões ansiosas pensam demais", de Carolina Jordão:
 
inimiga

mordisco meu próprio rabo,
tropeço,
caio no chão,
machuco o coração,
que agora acelera fugindo de mim.

foge do que eu penso,
dos socos que vem da minha própria mão,
do xingamento que sai da minha própria boca,
e esse peito que foge também grita chega.

o autoflagelar não vai me levar a lugar nenhum.
a paciência de se abraçar calorosamente demora,
vem com tempo e às vezes isso eu não tenho.

tenho dúvida de sobra,
uma caixa de auto críticas guardadas no escritório,
um romance pela metade no drive,
e algumas plantas morrendo de desgosto da dona.

tem dia que sai coisa linda desse bloco de nota,
cartinhas de amor pra ela e até pra mim,
tem dia que sai só um vômito de emoções piradas,
que voam dentro desse peito,
que não decide se dá amor ou causa dor.
 
***
 
jardinagem

tem raiz e pedra
onde não deveria ter
e eu tô sofrendo pra tirar
 
***
 
tô afundando

tem dia que eu me afogo em sentimento
uma emoção vai puxando outra
as ondas golpeiam meus ombros
a água salgada balança dentro dos meus pulmões

eu uso palavra como bóia,
naquela tentativa desesperada de fugir desse mar
tempestuoso que habita meu crânio
fugindo dos sentimentos do presente
escrevendo sobre o que eu sinto no presente
tentando fazer minha vivência do agora real