Rasura-me ou te devoro
Leia abaixo três poemas de "Rasura-me ou te devoro", de Danilo Santos Fernandes:
Nuvem
Numa certa manhã
ao despertar
de sonhos intranquilos
o poeta percebeu-se vagando no ar
pelo céu inteiriço
Seu corpo era claro
macio, impreciso
e seu sangue era da mesma matéria
do que não se pode aprisionar
Não doía mais estar vivo
e sob as pernas que não tinha
via um homem vagando
em sua eterna errância
cariada de sonhos e espinhos
Numa certa manhã
ao despertar
de sonhos intranquilos
uma nuvem descobriu
a raça humana
***
Museu imaginário
Por baixo da pele
dos sinais e das cifras
reside um enigma
– fiapo de adejo
que resiste ainda –
Incendeia-se
o horizonte
a vida regurgita
fome e descaso
mas dentro
(não tão fundo)
no museu imaginário
que brota
no absurdo
entre artifícios
e artefatos
um crânio luzindo
nos escombros
chamuscados
***
Cláusula da vida
Queremos todos viver no esboço
do mundo desdentado dos delírios?
Respirar dói um pouco, talvez,
mas ainda temos ar sob o miasma do lixo
A poesia é um pulmão esmagado
para nos agarrarmos, quem sabe
No fim da linha, onde a morte habita,
É sempre cedo para o degredo dessa ferida
Sobre o autor:
Danilo Santos Fernandes nasceu em Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, em 1993. Passou a maior parte da infância em Anastácio (MS) e o fim da adolescência em sua cidade natal, onde fez graduação e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Escreve poesia há nove anos, desde quando começou a se aprofundar no gênero por intermédio de pessoas queridas. “Rasura-me ou te devoro” é o seu primeiro livro, fruto de metamorfoses e experiências que foram se amalgamando numa mesma pergunta sem resposta feita pela poesia.
Informações do produto:
Capa comum: 106 páginas
Formato 14x21
Editora Libertinagem 1ª edição
São Paulo, 2022
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