Pantanal folk, de Jaminho
Leia abaixo um trecho do conto "A verdadeira lenda de Kikiò", que compõe Pantanal folk, de Jaminho:
"Tupã foi quem viu tudo lindo, tudo índio por aqui. Então, descobriu Unati seno* e seenamorou. Batizou-a em seus sonhos e devaneios de Anahí. E lá do firmamento miravacom encanto e desejos... Imperiosos, mesmo sendo ele um Iandeará², um deus, dios,god,… Tão encantado ficou que pediu para Echãiuánukê² que pudesse amar Anahí, aUnati seno. Echãiuánukê deu de ombros e sinalizou que a questão e responsabilidadeeram de Tupã.Sendo raio e trovão, este não podia sequer tocar Anahí sob pena de matá-la ou, nomínimo, assustá-la afastando-a do iandeará apaixonado. Então, Tupã desceu ao chão ese metamorfoseou num vigoroso e bem atipado kuimba’e. Aproximou-se e seduziu,conquistou corpo e alma de Anahí. Amaram-se nas noites enluaradas do Nhuverá.Cantarolaram abraçados mirando Jacy. Assobiavam e gemiam sons e músicasapaixonadas, mais que amorosas, em cio e estro, pela hare³, ióti⁴, do chão Yvy (Terra),enquanto a lua ia de escudo a foice, a punhal, sumisse para depois se tornar adaga,tacho, para ser escudo, mais uma vez.Tupã fecundou Anahi e esta, após Jacy se sanfonar de chumbo a âmbar nove ciclos,pariu Kikiô.Quando se viu que o gurizinho, filho do kuimba’e com Anahí iria vingar, Tupã foichamado de volta ao firmamento. As tempestades haviam sumido; as chuvas, rareado;os coriscos e raios, faíscas, o ribombar dos trovões, desaparecido. Por isso, osEchãiuánukê, lá pra cima e de regresso, o chamaram…Anahí seguiu morando na mesma aldeia, ali perto da montanha Itahum e dos camposque a cercavam com arredondados de matos, regatos ladeados por buritis, escarpadosparedões de lajes. Um grupo de parentes e amigos se formou, atraídos pelo falsohomem, que era Tupã disfarçado. Só quando ele viu que caçariam veado-campeiro eborevi, jacus e perdizes nas arapucas; pescariam os peixes dos rios para que sua amada eseu filho se alimentassem, o iandeará regressou aos céus: num redemoinho de poeira efolharada seca, estalos de trovão e faíscas de luz!Kikiô cresceu feliz e sadio. Aprendeu a caminhar cedo e a falar logo em seguida...Mas falava um linguajar estranho ao da mãe e dos parentes. Ele fundou um novo jeitode dizer as coisas, novas palavras e expressões (penso que deve ser o Ñe’e gatu). Osoutros lhe compreendiam, mas as respostas seguiam sendo na língua velha, no idiomados ancestrais.
Sobre o autor:
James Jorge Barbosa Flores – Jaminho – nasceu em 08 de janeiro de 1965, é natural de Guia Lopes da Laguna-MS; capricorniano com ascendente em aquário; escritor, professor durante 26 anos (ensino médio/graduação); é graduado em Comunicação Social, pós-graduado em Turismo e Meio ambiente. Pesquisador da história e cultura do Mato Grosso do Sul nas quais se embrenha e aventura para transformá-las em narrativas e relatos ficcionais versando ( no mais das vezes) sobre os elementos culturais identitários e simbólicos do MS. Já publicou 10 livros de contos (também em antologias e na revista Piúna, editada pela UBE-MS, do qual é membro), entre os quais: Punhal Enluarado; Guarânias dizem adeus e Tereré sem anestesia – Ed Telha; Mitologia Pantanal – Ed. Urutau. Cine Fronteira – Ed. Minimalismos.
Informações do produto:
Capa comum: 192 páginas
Editora Libertinagem: 1ª edição
São Paulo: março de 2025
Formato: 14x21cm
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