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Ornitorrincos são de Urano, de Kim Doria

Ornitorrincos são de Urano, de Kim Doria

Um ornitorrinco, um axolotl e um estegossauro entram em uma sorveteria e perguntam ao sereia: como se deseja o que se quer desejar? 

 

Livro de estreia de Kim Doria, ornitorrincos são de urano movimenta uma fauna literária para lidar com a dificuldade que enfrentamos para encontrar as palavras certas. Como a comunicação (assim como se relacionar romanticamente) é algo que se faz por duas ou mais pessoas, a leitura convoca quem lê a se implicar no desafio da construção das expressões do mundo.

 

Diante do que no mundo se apresenta como demasiado, um convite a voltar à origem do espanto: em um diálogo constante com a infância (do próprio autor às perguntas feitas por seu filho), Kim reúne uma colheita de pequenos instantes, alguns espantos e certos alumbramentos que nos lembra, como escreve Maria Rita Kehl no posfácio, que a "poesia pode ser pedestre, perambulando pelas ruas de chinelinho e camisola".

 

Leia abaixo um dos textos que compõem "Ornitorrincos são de Urano", de Kim Doria:

 

casas são feitas de tijolos, lares são feitos de amor (o rabino disse)


do trânsito repare em um viralata médio porte deitado sobre o muro da varanda feito gato
meio esfinge observando atento o trânsito de carros risadas rabos, contando, um dois três quatro, é este o apartamento em que vai narrar tua vida por sete quase oito anos
completos. proibido estacionar nem por um minuto, aviso que por ter lido pela primeira vez quando aprendeu a ler te parece que foi escrito por sua vó, segue o aviso sem a avó. a
garagem ensolarada que acolherá uma horta que receberá a ratinha louka primeiro enterro que seu filho fará questão de tomar pra si com as próprias mãos, o corpo na terra e a estrela no céu a curiosidade de desenterrar pra ver se ainda está lá acerolas e amoras
daqui alguns anos será somente aqui que poderá encontrar quem puder te visitar de
máscara e distante reencontrar aprender a cair do skate havia um chifre de veado na árvore que teu vizinho levou e o coração da bananeira que tomou ao seu peito e depois seu tio comeu sem pedir licença. o tranco do elevador que segue surpreendendo quem não foi avisade, quando entrar pela porta que seja com o pé direito, sempre o pé direito, por sete quase oito anos completos. tome um instante ou alguns anos para se perguntar o que leva alguém a trocar o taco por esse chão de pedras horrorosas, das mesmas mentes que trouxeram: tirar a banheira que todes us vizinhes têm menos você. quando chegar o dia de tirar a geladeira de seu canto, atente à sujeira que acumulou nesses anos, os azulejos cedendo ferida aberta caídos ao chão, isso é e não é um eletrodoméstico em movimento tampouco uma metáfora. houve uma noite uma queda com as luzes apagadas, sobre isso não há instruções que deem conta, saiba apenas que a cicatriz segue contigo e a luz permanece acesa como hábito até que a lâmpada queime e não caiba mais a nós trocar. lustres antigos que nunca vai trocar um projeto inacabado. a estante que vai se transformar madeira escura camponeses repousam depois do almoço branco acrílico livros dvds xixi de cachorro brinquedos um penico tatuagens temporárias de dinossauros porta-retratos e a samambaia que vibra nossa teimosia. o sofá verde, te dizem, está acabado, mas sobre o sofá verde seguimos sem definições, são muitos odores manchas sorrisos e silêncios: não é um trampolim de tal forma que perdeu um dos pés sem perder as histórias. pinte a cristaleira de azul sem tirar do lugar, a síntese de gerações: tenha cuidado, o espelho refletirá: o nascimento de familiares o seu de teu filho tua careca brotar e o sucesso que vai fazer em lives. da janela, noites mal dormidas tentando fazer o bebê parar de chorar, será aí que aprenderá a gritar ô zé volta aqui zé. difícil avaliar como se faz para dormir com as persianas verdes fechadas, para abafar o barulho recomendamos a instalação de janelas antirruído. não se assuste quando o chuveiro pegar fogo não uma mas duas vezes o teto ficará preto é assim mesmo. no primeiro quarto à sua esquerda os entulhos farão espaço para o que há de mais precioso que está por vir será esta a primeira vez que pintará uma parede e com formas geométricas em tons suaves de verde menta campestre receberá seu filho apesar dos registros em polaróide venho por meio deste lhe pedir: por favor, podem derrubar o edifício inteiro detonem o quarteirão ponham abaixo a cidade mas mantenham esta parede como está.

  • Sobre o autor:

    Kim Doria (@kimwido) é comunicólogo, pai, escritor, pesquisador, curador e professor. Trabalha com livros desde muito antes de se ver empregado em uma editora e de ter sido selecionado finalista pelo Prêmio Jovens Talentos PublishNews por conta de sua atuação na editora Boitempo. Desde 2019 escreve a newsletter A vida é uma quitanda, além de organizar mostras e cursos de cinema e literatura. Ornitorrincos são de Urano é o seu primeiro livro de poemas.

  • Informações do produto:

    São Paulo: Libertinagem, março de 2024

    Formato: 20 x 20 cm

    Capa comum: 1ª edição

    112 págs

    ISBN 978-65-84688-99-5

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