Jovens Marés

Leia abaixo dois poemas de "Jovens Marés", de Renan Fiorante:
 
Um pedaço do poeta

Fui ferido com uma espada que obtive de herança
o golpe foi em meu coração, 
quis provar mais do meu sangue.
 
Meu peito aberto e o mundo construindo
muros de abismo.
 
Meu peito aberto e o seu suor diário sem nenhum
desejo realizado
em prol do seu corpo pálido e assalariado.
 
Meu peito aberto e você desviando o olhar pela manhã
com culpa 
pela noite que passamos.
 
Meu peito aberto,
a noite caindo,
o céu desabando
e você chorando lendo as cartas do seu único amor na vida
enquanto o carnaval não chega.
 
Meu peito aberto,
uma sessão terapia,
um copo de vinho,
uma meia foda,
e qualquer remédio para preencher
o vazio de calçar os sapatos pela manhã.
 
Meu peito aberto,
a Casa São João de Deus
cheio de mulheres 
e homens
que não se encontram 
nem um minuto de suas vidas.
 
Meu peito aberto e a insatisfação de não amar o suficiente.
De não te matar porque eu te amo. 
De te querer porque eu te amo.
Porque eu só te amo 
e somos egoístas
e você não me vê 
enlouquecendo
sozinho.
porque eu quis.
porque eu te entendo nos braços de outro amor,
mas não justifico.
porque eu te amo 
calado
errante
e não me vendo.
 
São as belezas da vida que 
te faz sangrar
porque a calmaria não basta.
 
E eu te vejo correr 
cansado 
e não basta.
 
mas sobram as pernas
e o mundo é seu parceiro
 
e inimigo também.
 
***
 
Jovens Marés

Uma onda 
por sobre outra onda 
e mais outra 
             assim uma maré 
 
Uma maré 
por sobre outra maré 
assim se faz um oceano 
 
Outro dia 
outra semana, 
estação, banhistas, histórias, amores.
 
Outro governo
novo ano,
carro, bicicleta, semáforo, multa.
 
Outra década,
outra guerra,
novas tecnológicas, 
novos modos de produção.
 
Uma nova maré 
a mesma praia.