Eu e Chico: sete anos na mais fina companhia, de Dirce Mello
Leia abaixo um trecho de Eu e Chico: sete anos na mais fina companhia, de Dirce Mello:
DE TERNO BRANCO E CHAPÉU DE PALHA VOU ME APRESENTAR À MINHA NOVA PARCEIRA*
Olá! Como vai? Eu vou indo. E você, tudo bem? Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E você?
O Paulinho da Viola fez Sinal fechado (1970) na medida pra você, não foi? Nunca o vi tão Chico, nunca o ouvi tão Paulinho, Portela ou Mangueira é besteira, isso só pode ser é coisa da viola... Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança...
Lembrei! Você disse numa entrevista que gosta de reler livros... eu também, sabia? Vou comprar o diário do Ernest Junger que vive relendo, deve ser bom. Sou chegada a diários. Antes deste nosso (que é datado, porém não será diário), fiz um outro, que inventei de escrever paralelamente à tese do doutorado. Pois! Se fazê-la já é parto difícil, agora imagina registrar todo o contexto pessoal em que é feita... O que será que me dá, Chico: atraio as dificuldades ou elas é que me atraem?
Como foi a época do maior forrobodó amoroso na minha vida, virou um romance maior que a tese - e a meu ver, mais interessante que a própria, que foi indicada para publicação, mas acho que ele também merecia ser. Foi com ele que descobri minha veia cômica, que já aparece no título que dei inicialmente - Doutoranda também é gente - um diário meio hilário de uma mulher em tese.
Recentemente andei folheando-o e gostei, acho que vou tirá-lo da gaveta; além de ser didático, pode ser útil a quem faz uma pós, não só porque é divertido e ajuda a distensionar, mas, sobretudo, porque é muito humano, minha vida parece saltar a cada página, é um relato de incríveis superações... nossos netos o lerão e, no mínimo, espantar-se-ão com o contexto todo, é histórico, naquele tempo em que muitos de nós só fazíamos uma pós aos quarenta anos ou mais.
De certa forma eu, que não sou da música mas sou musical e gosto de cantar, que não sou da literatura mas gosto de escrever e quero ser escritora quando crescer, me deparo com uma questão que você viveu e expressou muito bem quando lançou Benjamim. O que é intuitivo em mim, a música? A literatura?
Mas tudo bem, Benjamim é outra prova de afinidade de gosto nossa - seu quinto “filho” na literatura tem o nome do meu primeiro filho criatura. Pois é. Antes que eu esqueça, não conheço o Chapeuzinho amarelo (1979) e nem o A bordo do Rui Barbosa (1981), não os encontro à venda, então um dia você me empresta, certo?
Falando em reler, gosto de reler o que você disse numa entrevista a Augusto Massi, na Folha de São Paulo de 09/01/94, porque você fez uma excelente elaboração sobre a sua relação com a música e com a literatura, que me clareia um pouco a questão que coloquei.
Folha - Algumas coisas que você não estava conseguindo dizer através da música foram transmitidas através do livro. Houve essa questão? Ainda que intuitivamente você se voltou para a literatura?
Você - Não, isso não é intuitivo. Eu tenho bastante claro que a música me conduz para algumas coisas e me limita. Eu sempre disse que conhecia os meus limites literários diante da música. Eu sabia que para mim era insuficiente aquilo como literatura. As coisas que eu digo no livro, não tenho música para dizer. Eu também não estabeleço terrenos hierarquicamente superiores. Através da música digo coisas que eu não conseguiria dizer sem ela. Em relação à música eu sou um autor muito mais passivo do que na literatura. É evidente que eu sou um músico intuitivo e não sou um escritor intuitivo. Eu tenho noção perfeita do que estou escrevendo.
Muito bom, a música é um canal, a literatura é outro. E você flui bem pelos dois, se assumindo também como um escritor convicto, ativo. Estou precisando disso, dessa atitude ativa, parece pleonasmo mas deixa que é pra me encorajar, quem sabe se você ler o diário da doutoranda me ajuda a deslanchar? Se você gostar, faço um bom copidesque e vai ficar de arrombar, pronto para publicar.
Olha só a cena: sala cheia de convidados, gente amiga, tudo bacana, musiquinha rodando (alguma coisa tipo um samba-bluesado, como num romance...), bebidinha passando, clima afável... e de repente, não mais que de repente, te vejo na fila do autógrafo, cara! Pô, nem precisava, eu ia te mandar um exemplar autografadíssimo!
A intenção seria nota 10, mas como eu disfarçaria o susto, o embaraço? Teria autocontrole para segurar a caneta? E o que sairia? O jeito seria ir com um autógrafo decorado, à altura do inesperado convidado. Mesmo assim, e se a memória falhasse? Não, vamos afirmar a nova parceria, honrar a nossa fina companhia...
Melhor será você ler o copião, me dar umas dicas, assim o terreno estará mais preparado, caso resolva aparecer no lançamento. Afinal, não esqueça de que é aqui que estamos estreando a parceria, e seria um escândalo anunciarmos outra fortuita parceria... coisa dos Mexericos da Candinha...
Ai, ai, parece que o futuro nos sorri...
Mangueeeeira, estou aqui na plataforma da Estação... Mas pode entrar no barracão... Já mandei subir o piano...
*Frase-título e frases em itálico-negritado de Piano na Mangueira (Tom Jobim e Chico Buarque, 1993)
Sobre a autora:
A autora é carioca e vive no Rio de Janeiro. Foi professora nos ensinos fundamental e de terceiro grau (UFPB), arte educadora, assistente social e terapeuta de autoconhecimento. É mestre em Educação Popular e doutora em Políticas Públicas e Movimentos Sociais. Além de Eu e Chico – sete anos na mais fina companhia, que está sendo reeditado (Libertinagem, 2025), publicou Doutoranda também é gente – o diário meio hilário de uma mulher em tese (Dialética, 2023) e Antes que a utopia acabe (Mulherio das Letras/Venas Abiertas, 2024). Participa em diversas coletâneas com prosa, poema e conto, seu gênero preferido. Integra o coletivo literário feminista Mulherio das Letras. Para contatos, use o dircemelorj@gmail.com
Informações do produto:
Capa comum: 300 páginas
Editora Libertinagem: 2ª edição
São Paulo: junho de 2025
Formato 14x21cm
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