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Do avesso

Do avesso

Leia abaixo alguns poemas de "Do avesso", de Daniela Altmayer, Heloísa Prazeres, Lea Lubianca, Letícia Prata, com fotografias de Lia Zanini:

 

Casas geminadas - Heloísa Prazeres

 

as casas reais sei que existiram eram duas ditas para reforma
vieram abaixo em dia combinado
restou ali o liso do terreno
testemunhei o desmonte dos caibros
trançados e retirados com esmero
doeu-me a perícia sem receio
do repuxo de ripas bem trançadas
desapressada e calculadamente
em cadência sequenciada
o soldo empilhado com desleixo
(eram peças distintas e robustas)
o desfecho deu-se em campo aberto
onde dei com o operário beijei-lhe a face cansada
ele suspirou
− Nada a fazer?
− Outros muros ruirão.

 

***

 

O picadeiro - Daniela Altmayer


sob a lona
um palhaço chora
a bailarina sem jeito dança
um mágico erra o truque
e o lenço não vira coelho
a criança sorri pipocas
um velho desdentado
algodão doce
no trapézio os amantes se enlaçam
as mãos dadas e os corpos retesados
seminus e suspensos
não há rede no amor
o tambor bate forte
a música para, de súbito.
de salto, de susto
deu certo:
estão voando,
respeitável público
voaram.

 

***

 

Artesã - Letícia Prata

 

manejo o cortador
na tentativa vã de
moldar o verso
massa disforme
aberta em sulcos
ranhura de letras
soltas emergem
- um sonhar acordado
disse o poeta
a lâmina insiste
desliza contorna
a forma cede
e despe o poema

 

***

 

Galinheiro - Lea Lubianca

 

No galinheiro da casa
aconchegada no colo
insistias em comer ovos quentes
observando as galinhas
e suas ninhadas
teu gosto
pelas origens
inquietação de juntar o ovo, o pinto
e a galinha
as seis e meia
na esquina
entre um pé de vento
e uma conversa fiada
ternas caminhadas
paz morna
amarela
sol de galinheiro

  • Informações do produto:

    Capa comum: 144  páginas

    Formato: 20x20

    Editora Libertinagem 1ª edição

    São Paulo, 2023

  • Sobre as autoras:

    Daniela Altmayer

    Nascida no Uruguai, criada em Rio Grande, filha do Sul e do vento, formada médica naquelas bandas, moradora de Porto Alegre por quase 30 anos, mãe de JP e olhadora de nuvens. Tem um livro de crônicas publicado em 2017, O amor errado mais certo do mundo, além de participações em duas outras coletâneas. Aluna fiel  da oficina de escrita do Pedro Gonzaga, para ela, escrever é um jeito de não desistir. Mais do que isso, é um jeito bonito de existir.

    Heloísa Prazeres

    No inverno de sua infância, desceu o bairro em pijama colorido, nas flanelas do sol posto, com um travesseiro colado ao coração; hoje, avia ainda o sonho de fraternidade, e em trânsito carrega o mesmo sentimento, encostada ao peito a pluma antiga. Docente, décadas a fio, foi por todos os degraus da escada das letras, que cedo levaram-na, e ao companheiro, artista visual, Jamison Pedra, e aos seus três filhos, para a vivência da América do Norte, na revolucionária década dos anos oitenta, onde assistiram à consolidação da contemporaneidade, aos movimentos da globalização e ao início da revolução digital. É antes de tudo leitora, rendida à escrita da poesia; também cultiva a alegria do reconhecimento, na Academia de Letras da Bahia e na Academia de Letras, de sua terra natal, Sul do estado, espaço de grapiunidade, território nativo e razão, que lhe atravessa a obra, ensaística e poética: Temas e teimas em narrativas baianas do Centro-Sul, 2000; Arcos de sentido: literatura, tradução e memória cultural, 2018; e poesia, Pequena História, 2014; Casa onde habitamos, 2016; Tenda acesa, 2020; A vigília dos Peixes, 2021, e Olhos capitais, em preparação.

    Lea Lubianca

    Nascida em Porto Alegre e criada no coração do Bom Fim, dos anos 1960 -1970 - entre o pátio da casa da vó  e os armazéns do Carlitos e do Izac, carrega esta cultura nas entranhas e nos temperos. Psicóloga e psicanalista por formação, é membro do Centro de Estudos Psicanaliticos de Porto Alegre e da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre – trabalhando há 35 anos na clínica com bebês e adultos. É cozinheira, leitora e escritora por paixão. Casada com Paulo Guilherme, mãe da Alice e do Peter - tem a maternidade e o universo feminino tramados na pele e no sangue. É encantada com os pet - netos Brigitte e Herói - latidos de dentro. Frequenta as oficinas de escrita de Pedro Gonzaga desde 2014 ao infinito e além. Transita entre a psicanálise e as artes – em especial literárias, gastronômicas e cinematográficas, dedicando-se ao estudo da poética psicanalítica. Tem inúmeras publicações na categoria ensaios psicanalíticos, como “Escrita e estética: A literatura como sala de espera para a psicanalise” e “O inconsciente na Gastronomia”. Do Avesso estreia e sela sua trajetória na poesia.

    Letícia Prata

    Tenho meu berço nas águas, sou filha de Iemanjá, nascida no dia 06 de fevereiro, na cidade do Salvador, em dia de festa. Há quase trinta anos, fiz minha travessia ao Sul, e moro, hoje, em Porto Alegre, perto do rio, com Nilson, companheiro de jornada, e João Filipe, nosso fruto. Por formação, sou bacharel em direito, e por ainda acreditar na justiça, trabalho no Tribunal de Justiça do Estado do RS, há mais de duas décadas, mas não vivo sem música e poesia, onde me encontro e me alimento diariamente de versos. Já participei de algumas coletâneas, e lancei dois livros de poesia: lã e linha do horizonte, 2012 e tempo para qualquer lado, 2022. Agora, nessa coletânea, arrisco-me a trançar poesia e fotografia, com outras quatro mulheres que, assim como eu, apostam na arte como forma de viver e transformar o mundo, pois não querem pouco e acreditam na construção permanente de uma voz feminina capaz de romper muros e alcançar novos horizontes possíveis.

    Lia Zanini

    Nascida em Porto Alegre, carrego sotaques de muitas ascendências, o que me faz bem brasileira. Fotógrafa brincante, tenho a câmera fotográfica como aliada: se a voz me falha, falo pela fotografia. Tenho mãos e pés inquietos, um cérebro pulsante e vontades que nunca couberam no arco do dia. Na sala de aula, como professora da Educação Especial, a Fotografia me ajudou a ouvir a voz de tantas crianças e adolescentes tomando a forma de resistência e alegria coletiva. Tive trabalhos expostos em revistas e mostras coletivas e pela primeira vez divido uma parte do meu olhar temperado com poesia.

  • Legal saber:

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    Os produtos adquiridos em pré-venda funcionam como um tipo de encomenda dos nossos livros. Você compra enquanto eles ainda estão em processo de edição. A pré-venda dura duas semanas e, após este período, há ainda etapas de finalização na Libertinagem antes de ir para a impressão. A gráfica responsável, por sua vez, se reserva o direito de usar um prazo de dez dias para entregar os exemplares à Editora. Em geral, é bom contar com um prazo médio de até quatro semanas para que enviemos o seu livro. Uma vez que os exemplares estiverem na Editora, os envios serão feitos imediatamente.

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