Deus me perdoe por quem eu sou, de Theo G. Alves
Leia abaixo um trecho de "Deus me perdoe por quem eu sou", de Theo G. Alves:
Ontem à noite tive um sonho estranho. Vi
Severino morto, deitado num caixão e rodeado de
flores. Eu sabia que estava triste, mas não chorava.
Achava bonito ele todo arrumado, a camisa bem passada
abotoada até a gola, as mãos cruzadas sobre o
peito. Severino parecia tão tranquilo. E eu também.
A sala onde o caixão estava era grande e muito
bonita. Só nós dois lá dentro. Eu ouvia de longe o
sino da igreja tocando, tocando. E o som ia ficando
mais alto, como se chegasse perto da gente.
Eu ia até uma janela bem grande, toda de vidro.
Olhava para fora e a cidade parecia outra. Era grande
e cheia de prédios altos e vistosos. Quando eu
voltava para perto do caixão, era como se eu tivesse
ido contar a ele o que eu via. Mas quando me aproximei,
ele não estava mais lá.
Agora quem estava deitada no meio das flores
era minha mãe. Eu segurava a mão dela e sentia ela
apertando a minha de volta.
Eu me lembro que não tinha medo, que ficava feliz
por ela segurar a minha mão.
Depois, eu subia na mesa e entrava no caixão ao
lado dela, ia me deitando, arrumando um lugar, e
me deitava abraçada com mamãe. Era como se eu
conseguisse sentir o cheiro das flores.
Eu dizia a ela que não estava com medo e ela segurava mais forte a minha mão.
Foi quando ela me disse para fechar os olhos e eu fechei.
Quando abri os olhos de novo, achei que estava acordada. Não havia mais caixão e eu estava no quarto de Severino. Ele dormindo na cama, o lençol cobrindo a cabeça. Eu me levantei e fui até a cozinha, mas quando cheguei lá vi meu pai sentado, tomando café.
Eu me aproximei e ele jogou a xícara de café quente em mim.
Foi nesse momento que eu acordei de verdade, muito apavorada e com gosto de sangue na boca.
Senti medo, muito medo. Pensei em visitar papai, mas não tive coragem. Também não contei nada do sonho a ninguém.
Dalva,
Currais Novos, 14 de dezembro.
Sobre o autor:
Theo G. Alves nasceu em dezembro de 1980, em Natal, mas cresceu em Currais Novos e mora em Santa Cruz, ambas no interior do Rio Grande do Norte. Foi premiado em concursos nacionais e regionais tanto por sua prosa quanto por sua poesia. Publicou os livros “Pequeno Manual Prático de Coisas Inúteis”, “A Máquina de Avessar os Dias”, “Doce Azedo Amaro”, “Caderno de Anotações Breves e Memórias Tardias” e “Inventário de Tão Pouco”, todos de poesia; “Por que Não Enterramos O Cão?”, de contos; e “A Cartomante que Adivinha O Presente” e “Peço Desculpas por esta Crônica (e por outras)”, de crônicas”. Publicou ainda o romance “Barreiro das Almas”. Já teve textos publicados em diversas antologias e revistas de diferentes partes do país. Theo continua escrevendo, entre silêncio e barulho, por acreditar na palavra como caminho, inevitavelmente.
Informações do produto:
Capa comum: 162 páginas
Editora Libertinagem, 1ª edição
São Paulo, janeiro de 2025
Formato 14x21
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