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Coisas de Nunca, de Lena Fuão

Coisas de Nunca, de Lena Fuão

Leia abaixo o conto: "Ju da Lua", de Lena Fuão:

 

JU DA LUA


curvou seu tronco pra frente que era pra bem de poder olhar melhor a erva que tava vingando. tinha muitas no seu quintal. tantas que de vez em quando se atrapalhava um pouco. mas se parasse e se concentrasse, sabia sim de cor todas elas e pra que serviam e fazia feitiços na escuridão da noite. não entendia de onde que vinha seu dom pra bruxaria, era empírico, mas se perguntassem, ela dizia que era ancestral. em lua exibida, fazia mandinga pra chamar dinheiro; quando queria que alguém voltasse, fazia de sino uma taça que mostrava pra lua. e assim ia desenvolvendo sua ritualística pra manipular o que bem entendia: abaixo de erva e reza. e ninguém compreendia como davam certo aqueles serviços. quando não estava envolvida com seus preparados, gostava de arrumar os cabelos das gurias da Mangacha, antigo cabaré famoso da cidade, e dizia pra cada uma: se é essa tua sina, que te apresentes uma bela menina. assim ia conquistando a simpatia das moças e dos rapazes que ali frequentavam. era amiga do político e do porteiro. da dama e da prostituta. tinha gosto por todo mundo. mas era dengosa. quando algo ou alguém não lhe fazia os agrados, vinha logo o choro, a dor no peito, o chilique porque dramática é o que ela era. desse modo conseguia o que queria, à base de muito faniquito, mas também de muita doçura. e até o que só queria no pensamento, conseguia, porque todo mundo corria pro paparico. mas acontece que teve um neto. um neto que mais gostaria que fosse neta. e vestia o guri de plumas e brilhos, transparências e babados, laços e bordados. quanto mais ele crescia, mais se enfaceirava. deve de ter sido aí que a intuição dela mais orientação dele se deram os braços criando laços profundos entre os dois. e ele assim cresceu, vaidoso, cheio de namorados e, seguindo os passos da avó, virou feiticeiro. a velha já se foi, mas quando em alguém bate a saudade, é só procurar no fundo dos olhos do neto que se enxerga ela bem lá dentro, sentadinha, e nas mãos as ervas e na boca as rezas.

 

 

  • Informações do produto:

    Capa comum: 62 páginas

    Editora Libertinagem, 1ª edição

    São Paulo, 2024

    Formato: 14x21

  • Sobre a autora:

    Lena Fuão. Professora do IFsul- Pelotas, doutoranda em Letras pela FURG. Autora de Sobre a pessoa e outros poemas (2012) e Lave a boca pra falar de poesia (2017) pela Editora Livraria Mundial, Entra que tá chovendo (2020), pela Editora Gataria, e Toda poesia é uma porta para o céu (2022), Editora Voz de Mulher. Ganhou Prêmio Literário Castro Alves (2013), na categoria conto, Medalha de Ordem do Mérito pela Academia Pelotense de Letras (2019), Menção Honrosa Prêmio Off-Flip Conto (2022) e 2º Lugar Poesia Prêmio Sintrajufe/Mário Quintana (2022). Possui participação em diversas coletâneas como, por exemplo, nos livros As coisas que as mulheres escrevem (2019), obra inaugural da Editora Desdêmona, De labirintos e espirais – sete poetas de Rio Grande (2021), da Editora Patuá, bem como Mulherio de Portugal – Prosa e Verso (2021), da Editora In-finita.

  • IMPORTANTE:

    INFORMAÇÕES IMPORTANTES SOBRE LIVROS ADQUIRIDOS EM PRÉ-VENDAOs produtos adquiridos em pré-venda funcionam como um tipo de encomenda dos nossos livros. Você compra enquanto eles ainda estão em processo de edição. A pré-venda dura três semanas e, após este período, há ainda etapas de finalização na Libertinagem antes de ir para a impressão. A gráfica responsável, por sua vez, se reserva o direito de usar um prazo de dez dias para entregar os exemplares à Editora. Em geral, é bom contar com um prazo médio de até quatro semanas para que enviemos o seu livro. Uma vez que os exemplares estiverem na Editora, os envios serão feitos imediatamente.

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