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Cadáver, de Pedro Dias do Livramento

SUSSURROS

 

Querido diário,

Ultimamente tenho me sentido oco, uma casca vazia. O mundo está um caos e quando tento dormir à noite, a única coisa que vejo são os seus olhos brilhantes em minha direção. Eles me consomem por inteiro. Deito-me no sofá aturdido e quando tento tocar o chão novamente, sinto a terra desabar sob meus pés.

É assustador olhar para baixo e não encontrar o seu reflexo na escuridão, o eco de um ser esvaziado pelo medo, de tentativas fracassadas, de imposições feitas pelo próprio super ego.

A necessidade de decisão me devasta como vendaval a cada instante que passa, vou me esvaindo como palavras trocadas em conversas de adolescentes, sem sentido e sem conexão. Sinto-me à beira do colapso e, seus olhos cintilantes me devoram e me acalmam em meio a todo esse turbilhão.

Minhas mãos trêmulas tentam rabiscar meus segredos no papel, mas tudo que consigo é gravar seu nome, com tamanha força, que suas marcas transpassam as páginas de minha história. Estou à deriva, preso nesse limbo, nesse ciclo eterno entre meu eu e o seu olhar.

Experiencio um paradoxo eterno que contraria os princípios que orientam meus pensamentos utópicos. A necessidade de viver plenamente minha verdade, em contrapartida a urgência por me apegar a constância de um passado estável e concreto.

Mundo, desabe sobre mim, espanque-me, destrua-me e renove-me como uma supernova, para que eu possa evoluir para um estágio superior e surgir como uma tela aprimorada.

Busco em meus clamores exagerados uma saída para essa situação, pois se algum ser superior é existente, talvez se compadeça de minha alma atormentada e de minha psiquê destroçada. Se não, que o mundo e suas forças naturais possam limpar essa parte corruptível da história e iniciar um novo capítulo.

Necessito respirar novamente e não sei como o fazer, porque quando fecho os olhos a fim de escapar da realidade que me cerca, tudo o que vejo é o seu olhar penetrante, fuzilando-me sem probabilidade de perdão e sentenciando-me ao purgatório das minhas indecisões.

Meu confidente diário, obrigo-me a permanecer embriagado e compelido a preencher as camadas de meu espírito, para que os monstros de meus pensamentos não reverberem em minha carcaça espeça e superaquecida, e possa experienciar o silêncio que inquieta o coração, mesmo que seja por alguns milésimos de segundos.

  • Sobre o autor:

    PEDRO DIAS DO LIVRAMENTO nasceu em Massapê (CE), em 08 de maio de 1999, mas reside na cidade de Sobral (CE) desde o ano de 2020. É licenciado em História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e pós-graduado em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e Mundo do Trabalho pela Universidade Federal do Piauí (UFPI).
    Suas contribuições como escritor envolvem a participação em publicação recente, na obra de Ítalo Lima Dourado, ‘Frio, Sombras e Dúvidas’, lançada pela Editora Libertinagem em novembro de 2024 e participação na Coletânea de Contistas Contemporâneos 2024, da Editora Persona.

  • Informações do produto:

    Capa comum: 72 páginas

    Editora Libertinagem: 1ª edição

    São Paulo, junho de 2025

    Formato: 14x21

     

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