Alegrias Perdidas
Leia abaixo três poemas de "Alegrias Perdidas", de Gusthavo G. Dias João:
Atenas
O tempo que passa
Chegou com pressa
Não observou o brilho do mármore
a delicadeza da travessa
cheia de oferendas tão antigas como o mundo
O tempo não percebeu
que esqueceu de envelhecer as maçãs
entre ruínas estriadas
sob uma travessa amassada e escura
Quatro maçãs tão vermelhas quanto o sangue
esperavam os deuses
desde antes de seus avós nascerem e aprenderem
que o tempo que corre
não percebe o que faz.
*
Noel
Cantou o hino como nunca foi pensado
Soube do crime e criou outra canção
Sem nunca deixar de cantar
A verdade que nasceu de seu coraçãoOs militares revoltados
Precisavam prender alguém
A culpa é do Caetano
Que assustado perguntou,
“Com que roupa eu vou?”
*
Lágrima de Sangue
Escute
Tem gente que abandona os filhos
Tem gente que sacrifica tudo por elesTem gente que tem medo de errar
Tem gente que erra e entende
Que fez o seu melhorTem gente que está e nunca fica
Tem gente que não tá e nem liga
Tem gente que liga, mas tá longe
Tem gente que tá aqui
Agora e sempreTem gente que elogia os filhos
Tem gente que diz que não é menos
que obrigação
Tem gente que não liga
Tem gente que nunca soube de nadaTem gente que é feliz
com a certeza do que fez
Tem gente que nem percebe
o que deixou de dizer
Tem gente que chora sangue
de vergonha
por nunca ter sido
nada além
de um fantasma
Ausente.
Informações do produto
Capa comum: 114 páginas
Formato 14x21
Editora Libertinagem 1ª edição
São Paulo, 2022
Sobre o autor:
Gusthavo Gonçalves Dias João, nascido no outono de 1996, é Carioca. Escritor pela vida, Museólogo pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, atualmente é Mestrando em Arqueologia no Museu Nacional/UFRJ. Em 2019, publicou de maneira independente seu primeiro livro, “Chá de Girassóis”. Alegrias perdidas é seu segundo livro.